quarta-feira, 27 de maio de 2015

S.Afonso de Ligório: O padre ao altar ocupa o lugar de Jesus Cristo, deve pois, diz S. Lourenço Justiniano, aproximar-se dele para celebrar, quanto possível, à imitação de Jesus Cristo.

S.Afonso de Ligório: O padre ao altar ocupa o lugar de Jesus Cristo, deve pois, diz S. Lourenço Justiniano, aproximar-se dele para celebrar, quanto possível, à imitação de Jesus Cristo.É preciso confessar, diz o Concílio de Trento, que não é possível a um homem praticar ação mais santa que celebrar uma missa.E acrescenta: deve portanto o padre envidar todos os esforços para celebrar o santo Sacrifício do altar com a máxima pureza de consciência possível.Numa palavra, quem não é santo é indigno de se aproximar do altar, porque, sendo impuro, mancha o santuário de Deus. Não se aproxime do altar, porque tem uma mancha, e não deve manchar o meu santuário.






 I
Qual deve ser a santidade do padre como ministro do altar
Quer Sto. Tomás que se exija aos padres maios santidade que aos simples
religiosos, em razão das funções sublimes que exercem, especialmente
da celebração do sacrifício da missa. A razão é que recebendo uma Ordem
sacra, dedica-se o homem ao mais alto ministério, que consiste em servir a
Jesus Cristo até no Sacramento do altar; o que exige uma santidade interior
mais elevada que a que se requer para o estado religioso. Em igualdade de
circunstâncias pois, um clérigo de Ordens sacras, obrando contra a santidade,
peca mais gravemente que um religioso, que não esteja revestido de
nenhuma Ordem sacra164. É muito conhecida a sentença de Sto. Agostinho:
“Dificilmente um bom monge dá um bom clérigo”165. Deste modo, nenhum
clérigo pode ser olhado como bom, se não exceder em virtude um bom religioso.
“Um verdadeiro ministro do altar forma-se para Deus, e não para si”166.
Significam estas palavras de Sto. Ambrósio que um padre deve esquecer as
suas comodidades, as suas vantagens e os seus gostos; deve persuadir-se
que, desde o dia em que recebeu o sacerdócio, não é seu, mas de Deus. Tem
muito a peito o Senhor que os padres sejam puros e santos, para que possam
comparecer na sua presença, isentos de todo o defeito, e oferecer-lhe
os sacrifícios: Ele se assentará a fundir e limpar a prata; e purificará os filhos
de Levi, e os acrisolará como o ouro e a prata; depois oferecerão os sacrifícios
na justiça167. Assim fala o profeta Malaquias; e no Levítico lê-se: Serão
santos no serviço do seu Deus, e não desonrarão o seu nome; porque hão
de oferecer incenso do Senhor e os pães do seu Deus, e por conseqüência
serão santos168. Se deviam pois ser santos os sacerdotes da Lei antiga, porque
ofereciam a Deus apenas o incenso, e os pães de proposição, que eram
uma simples figura do adorável Sacramento dos nossos altares, quanto mais
devem ser puros e santos os sacerdotes da lei nova, que oferecem a Deus o
Cordeiro sem mancha, o seu próprio Filho! Nós oferecemos, observa Estio,
não novilhos ou incenso, como os sacerdotes antigos, mas o próprio Jesus
Cristo; oferecemos o corpo mesmo do Senhor, que foi suspenso no altar da
cruz.
É-nos necessária portanto a santidade, que consiste na pureza do coração;
quem se aproxima sem ela destes mistérios terríveis, aproxima-se indignamente169.
Sobre este ponto, escreveu Belarmino: Desgraçados de nós, que,
chamados a este ministério sublime, estamos longe do fervor que Salomão
exigia dos padres da aliança figurativa!170. Até mesmo os que deviam trans-
portar os vasos sagrados queria o Senhor que fossem isentos de mancha:
Purificai-vos, ó vós que levais os vasos do Senhor!171 Quanto mais puros
devem ser os padres que trazem nas suas mãos e recebem no seu corpo o
próprio Jesus Cristo! Assim fala Pedro de Blois172. E Sto. Agostinho diz por
sua vez: Deve ser puro quem há de manusear não só vasos de ouro, mas até
os vasos em que é renovada a morte do Senhor173.
Devia ser santa e imaculada a beatíssima Virgem Maria, porque havia
de trazer no seu seio o Verbo encarnado e tornar-se sua Mãe; e, à visto
disso, exclama S. João Crisóstomo, não será indispensável que brilhe, com
uma santidade mais resplandecente que o sol, essa mão do padre que toca
a carne dum Deus, essa boca que se enche dum fogo celeste, e essa língua
que se banha com o sangue de Jesus Cristo?174 O padre ao altar ocupa o
lugar de Jesus Cristo, deve pois, diz S. Lourenço Justiniano, aproximar-se
dele para celebrar, quanto possível, à imitação de Jesus Cristo175. Que perfeição
não exige duma religiosa o confessor, para lhe permitir a comunhão quotidiana!
E porque não se exigiria a mesma perfeição do sacerdote que comunga
todos os dias? É preciso confessar, diz o Concílio de Trento, que não
é possível a um homem praticar ação mais santa que celebrar uma missa176.
E acrescenta: deve portanto o padre envidar todos os esforços para celebrar
o santo Sacrifício do altar com a máxima pureza de consciência possível. Ai!
Que horror, exclama Sto. Agostinho, ouvir essa língua, que chama o Filho de
Deus do Céu à terra, falar depois contra Deus, e ver essas mãos, que se
tingem no sangue de Jesus Cristo, mancharem-se com as torpezas do pecado!
177.
Se Deus exigia tamanha pureza dos que deviam oferecer-lhe em sacrifício
animais ou pães, e aos que qualquer modo estavam manchados lhes
proibia178 que lhe fizessem oferendas, — quanto maior deve ser a pureza de
quem está encarregado de oferecer a Deus o seu próprio Filho, o Cordeiro
divino! Tal é a reflexão de Belarmino179. Sto Tomás diz que pela palavra
maculam, no texto citado, se deve entender todo e qualquer vício: Qui est
aliquo vitio irretitus, non debet ad ministerium Ordinis accedere Suppl. q. 36.
a. 1).
A Lei antiga excluía das funções de sacrificador os cegos, coxos, corcundas
e leprosos: Nec accedet ad ministerium ejus, si caecus fuerit, si
claudus... si gibbus... si habens jugem scabiem (Levit. 21, 18). Os santos
Padres, dando um sentido espiritual a estes defeitos, olham como indignos
de subir ao altar: os cegos, ou que fecham os olhos à luz divina; os coxos, ou
preguiçosos, que nada adiantam no caminho de Deus, e vivem sempre com
as mesmas imperfeições, sem oração e sem recolhimento; os corcovados,
que sempre estão com as suas afeições voltadas para a terra, para os bens,
honras e prazeres do mundo; os leprosos, ou sensuais que, à semelhança do
mundo animal imundo, diz o Sábio, se revolvem no lodaçal dos prazeres
torpes180. Numa palavra, quem não é santo é indigno de se aproximar do
altar, porque, sendo impuro, mancha o santuário de Deus. Não se aproxime
do altar, porque tem uma mancha, e não deve manchar o meu santuário181.